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O feminismo e a corrida

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Parece que nas últimas semanas o Brasil descobriu o feminismo. Primeiro veio a repercussão dos comentários pedófilos sobre uma participante de 12 anos do programa Master Chef Júnior.

A história deu origem à campanha #PrimeiroAssédio, que reuniu mais 80 mil relatos e mostrou que as mulheres sofrem a primeira violência sexual, em média, aos 9,7 anos de idade.

Então veio o tema do ENEM: “a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. E, por fim, a reação feroz de milhares de mulheres contra o Projeto de Lei 5069, que restringe atendimento a vítimas de violência sexual no SUS e ainda pune o profissional de saúde que ajudar essas mulheres a terem acesso à pílula do dia seguinte, por exemplo.

Eu fui à manifestação contra o PL na última sexta feira com o meu novo Nike Zoom Vomero 10. Andei quilômetros, pulei, corri, dancei e acordei sem nenhuma dor na panturrilha. Ganhou o  nobre selo “à prova de protestos”.

Já pensou se fosse ao contrário?
Já pensou se fosse ao contrário?

Mas o que o feminismo tem a ver com corrida? Tudo.

Se hoje a mulher pode usar calça, trabalhar, votar, dirigir, casar com quem quiser e se divorciar…. é por causa do feminismo.

Se hoje podemos participar de provas, subir ao pódio e ter orgulho de nossas medalhas, é por causa de mulheres como Kathrine Switzer, que em 1967 foi a primeira a participar de uma maratona nos EUA quando elas ainda eram proibidas sequer de treinar.

Ou você acha que a liberdade de correr na rua (de calça, short e até de saia) caiu do céu?

Se hoje podemos ir ao médico para tratar nossas tendinites e joelhos de atleta sem a presença obrigatória de nossos maridos ou familiares, é porque a sociedade brasileira já evoluiu um pouquinho. Em outros lugares do mundo, mulheres ainda não têm esse privilégio.

Se hoje podemos trabalhar, ganhar nosso dinheiro e fazer o que bem entendermos dele (tipo, comprar um tênis bacana), é porque bem recentemente as mulheres passaram a fazer parte do mercado de trabalho – para ganhar em média 76% dos que os homens, diga-se de passagem.

Se a corredora que foi estuprada enquanto treinava na Vista Chinesa (RJ) no ano passado pode seguir sua vida sem ter que carregar no ventre o filho de seu estuprador, é porque as mulheres conquistaram com muito esforço o direito à profilaxia para gravidez e DSTs em casos de violência sexual. Esse direito pode acabar se o Projeto de Lei 5069 for aprovado.

Ou por acaso uma mulher que ousou calçar o tênis e treinar sozinha estava “pedindo para ser estuprada”?

Se tudo isso parece um grande exagero, tente se colocar na pele de quem sente essa opressão todos os dias.

Então o feminismo não é coisa de meia dúzia de mulheres mal amadas, como muita gente diz por aí. É (ou deveria ser) uma causa que envolve todo mundo: homens, mulheres,  gente de esquerda e de direita. A verdade, querido corredor, é que graças ao feminismo as mulheres podem se exercitar livremente hoje.

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