DESAFIOS SÃO PARA OS FRACOS, já escuto-me dizer, a voz fanha a desafinar nas últimas sílabas. Correr, disse-o aqui um milhar de vezes, mais do que tudo é prazer, portanto quedê o espaço para o desafio?
Bem, isso é o que eu talvez ache – já não estou tão certo disso –, mas certamente não é o que acham 9,9 entre 10 corredores. É na base do desafio, da contagem de quilômetros, que a rapaziada encontra estímulo para colocar os keds nos pés e ganhar o cascalho.
Mais do que na contagem, aliás, o estímulo maior para correr todo dia está na divulgação dessa contagem. O sucesso de aplicativos como o Strava, que reúnem essas muitas pessoas sedentas por mostrar suas fichas corridas, provam-no sobejamente.
O PRIMADO DO PRAZER
UMA CORRIDA LÍRICA NA USP
A CORRIDA SEGUNDO DRAUZIO
O MAPA DE CALOR DO STRAVA
Fui dar uma olhada no site do Strava e encontrei o “Let’s Push”, que deve ser o mais recente desafio inventado pela rapaziada de marketing digital da lança. Esse Let’s Push tem um padrinho, o triatleta Tiago Vinhal. A jogada é correr mais do que o coleguinha – em volume – entre 15 de fevereiro e 15 de março.
Um brasileiro, aqui de São Paulo, lidera a competição. Seu nome é Valdenir Jandosa, e só ontem ele fez um longão de 36K em menos de 3 horas.
Em segundo vem um cara da Malásia e em terceiro um russo – se não russo, ao menos alguém que escreve em cirílico.
Num Google rápido, deu para sacar que o Jandosa leva a sério o bagulho. Entra em provas de 5K (corre para 17 minutos) e também maratonas (sub 3h25).
Aí eu fico pensando: o sujeito que toda hora disputa provas e que corre em busca de recordes pessoais ainda precisa desse tipo de estímulo do Strava para correr diariamente?
A corrida não é um estímulo por si só?
Pior que não. Tem dias que dá uma preguiça… O médico e corredor Drausio Varella costuma dizer que na natureza ninguém faz atividade física apenas por fazer, sem uma finalidade estrita – sobrevivência, alimentação, reprodução – a justificá-la.
Vem daí, talvez, essa preguiça gigante. A vaidade amplificada e ecoada pelos smartphones, ironicamente, pode ajudar a combatê-la.
Jandosa, segura aí que eu tou chegando.
Mas, como diria Santo Agostinho, não já.
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